BID aposta em PPPs bilionárias no país

Doyle: "infraestrutura é um elemento central para fazer avançar os objetivos de desenvolvimento sustentável"
Doyle: "infraestrutura é um elemento central para fazer avançar os objetivos de desenvolvimento sustentável"

Sob o comando de Ilan Goldfajn desde dezembro, o Banco interamericano de Desenvolvimento (810) aposta em um conjunto de projetos bilionários em infraestrutura no Brasil.

O banco está liderando atual­ mente 25 projetos de parcerias público-privadas e ele concessões pelo país nas áreas de trans­ porte público, saneamento, energia sustentável, hospitais, escolas, conservação de florestas, entre outros.

A estimativa é que, uma vez concluídos, esses projetos mobilizem um investimento privado total de US$ 6,3 bilhões.

Em entrevista ao Valor, o representante do BID no Brasil, Morgan Doyle afirmou também que, além dessas 25 PPPs, o banco já tem em vista a participação em outros novos projetos.

“Temos também um pipeline muito robusto que está chegando agora. Escopo do capex [investimento] associado a alguns desses novos projetos ainda não foi fechado, mas pode ser outro número muito expressivo, que deve ultrapassar US$ l bilhão”, disse ele.

O BID se apresenta como a instituição multilateral que tem a maior carteira de estruturação ele projetos de PPPs e concessões no país. E diz também que sua carteira de financiamentos concedidos a projetos do poder público – principalmente para Estados e municípios – atinge atualmente cerca de US$ 1O bilhões. O montante já liberado para o setor privado- quase sempre para PPP se concessões – é menor, mas também significa­ tivo:US$2 bilhões.

“São números muito expressivos que representam uma aposta muito grande da nossa na visão de que infraestrutura é um elemento central para fazer avançar os objetivos de desenvolvimento sustentável”, disse Doyle.

Usinas de energia solar, eletrificação de ônibus em grandes cidades, projetos de saneamento ou de resíduos sólidos, equipamentos de saúde pública, otimização do uso de água pela agricultura e pela indústria são algumas das áreas alinhadas com metas de sustentabilidade e redução ele emissões de gases de efeito estufa.

“São áreas para as quais realmente há oportunidades, além de serem um grande interesse nosso”, disse Doyle

As oportunidades que projetos com esses perfis têm hoje para se financiarem vão muito além do universo dos bancos.

“Até dez anos atrás, as principais fontes privadas de financiamento à infraestrutura éramos bancos comerciais”, diz Pablo Pereira dos Santos um dos autores do estudo” Financiamento sustentável da infraestrutura econômica e social na América Latina e no Caribe”. Além cios bancos privados, os públicos também tinham papel importante.

“Mas de dez anos para cá isso veio mudando e hoje na região, e essa é uma tendência mundial, predominam instrumentos de mercado de capital, principalmente títulos privados. E entre os títulos que têm crescido muito estão os chamados títulos verdes”, diz Santos, especialista em PPPs e integrante do corpo técnico do BID. Uma das razões por trás da ascensão desses papéis são as restrições que foram impostas pela adoção de Basileia 3 ao financiamento bancário, observa Santos. “Isso abriu espaço para o mercado de capitais.”

Ele diz ver outra tendência, muito nítida no Brasil: o financiamento em moeda local. “Em países da região, aliás em todo o mundo, tende-se a financiar projetos de infraestrutura com moeda forte, dólar, euro, iene. No Brasil, a gente financia nossa infraestrutura principalmente com moeda local.”

Uma vantagem, continua ele, é o fato que concessionários e investidores ele projetos, por exemplo em casos ele concessão ou PPP, têm receitas em real e pagam seus empréstin1os também em real. Outra vantagem: no mercado local é mais fácil levantar recursos para projetos de menor porte. Enquanto o mercado internacional oferece mais opções de financiamento, os custos elas operações lá fora são mais elevados e tendem a fazer mais sentido para projetos ele maior vulto- o que limita o acesso. No caso do BID, Morgan Doyle, diz não ter uma cifra definida das linhas ele financiamento que o banco tem disponível para oferecer a projetos no Brasil. A oferta cio banco dependerá ela demanda, segundo ele.

“E eu entendo que existe uma oportunidade fantástica para o Brasil, para nós e para diversos atores, para sermos parte desse processo de investimento aqui.”

O BID passou por uma mudança de comando no fim de 2022, quando o ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn foi eleito presidente. O brasileiro assumiu a presidência do BID após a saída cio americano de 01igem cubana Maurício Clever-Carone.

 

Autor: Marcos de Moura e Souza
Fonte: O Estado de São Paulo